Thompson E.P Costumes em Comum Estudos Sobre A Cultura Popular Tradicional.
INTRODUÇÃO
Thompson,em sua visão marxista mostra as mudanças que ocorrem na Europa com a chegada do capitalismo industrial,por exemplo para os camponeses o tempo era medido com a duração das tarefas ,já para os empregadores o tempo era medido pelo relógio. Com a transformação do tempo o feriado de segunda-feira se perdeu só a elite que manteu a segunda como dia livre,esse novo tipo de medição de tempo trouxe mudanças significativas já que a sociedade não industrializada estava acostumada a sair do trabalho a qualquer hora e com o advento capitalista tempo passa a ser dinheiro,isto bate de frente com o modo de vida pré industrial.
1.Fichamento do capitulo 6.
1.1 capitulo 6 – Tempo,Disciplina de trabalho e Capitalismo Industrial.
268 e 269 - “É lugar-comum que os anos entre 1300 e 1650 presenciaram mudanças importantes na percepção do tempo no âmbito da cultura intelectual da Europa Ocidental.
À medida que o século XVII avança,a imagem do mecanismo do relógio se expande,até que,com Newton,toma conta do universo. E pela metade do século XVIII (se confiarmos em Sterne) o relógio já alcançara níveis mais íntimos.”
“É bem conhecido que,entre os povos primitivos,a medição do tempo está comumente relacionada com os precessos familiares no ciclo do trabalho ou das tarefas domésticas.”
271 e 272 - “É possível propor três questões sobre a orientação pelas tarefas. Primeiro,há a interpretação de que é mais humanamente compreensível do que é uma necessidade. Segundo,na comunidade em que a orientação pelas tarefas é comum parecer haver pouca separação entre “o trabalho” e “a vida”.As relações sociais e o trabalho são misturados – o dia de trabalho se prolonga ou se contrai segundo a tarefa - e não há grande senso de conflito entre o trabalho e “passar do dia”.Terceiro,aos homens acostumados com o trabalho marcado pelo relógio,essa atitude para com o trabalho parece perdulária e carente de urgência.”
274 e 275 –“ E também não deixa de ser verdade que o moral elevado dos trabalhadores era sustentado pelos altos ganhos na colheita. Mas seria um erro ver a situação da colheita como resposta direta a estímulos econômicos. É igualmente um momento em que os ritmos coletivos mais antigos irrompem em meio aos novos,e uma porção do folclore e dos costumes rurais pode ser invocada como evidência comprovadora da satisfação psíquica e das funções rituais.”
“Não é absolutamente claro até que ponto se podia dispor de hora precisa,marcada pelo relógio,na época da Revolução Industrial. Do século XIV em diante,contruíram-se relógios públicos nas cidades e nas grandes cidades-mercados. A maioria das paróquias inglesas devia possuir relógios de igreja no final do século XVI. Mas a exatidão desses relógios é motivo de discussão; e o relógio de sol continuava em uso (em parte para acertar o relógio) nos séculos XVII,XVIII e XIX.”
“Um grande progresso na exatidão dos relógios caseiros veio com o uso do pêndulo após 1658.Os relógios de pêndulo começaram a se espalhar a partir da década de 1660,mas os relógios com os ponteiros dos minutos (além dos ponteiros das horas) só se tornaram comuns depois dessa época. “
276 e 277 – “A fabricação de relógios não portáteis nas pequenas cidades sobreviveu até o século XVIII.Ao contrário,a fabricação de relógios portáteis,desde os primeiros anos do século XVIII,estava concentrada em alguns centros,dentre os quais os mais importantes eram Londres,Coventry,Prescot e Liverpool.”
“É claro que havia muitos relógios portáteis e não portáteis por volta de 1800.Mas não é claro quem os possuía. A dra Dorothy George,escrevendo sobre a metade do século XVIII,sugere que “os trabalhadores,assim como os artesãos,frequentemente possuíam relógios de prata”, mas a afirmação é indefinida quanto à data e apenas ligeiramente documentada.”
278, 279 e 280 – “Os impostos eram de dois xelins e seis pence sobre cada relógio portátil de metal ou prata;dez xelins sobre cada relógio de ouro;e cinco xelins sobre cada relógio não portátil.”
“Havia muitos relógios no país na década de 1790: a ênfase estava mudando do “luxo” para a “conveniência”;até os colonos podiam ter relógios de madeira que custavam menos de vinte xelins. Na verdade (como seria de esperar),ocorria uma difusão geral de relógios portáteis e não portáteis no exato momento em que a Revolução Industrial requeria maior sincronização do trabalho.”
“O pequeno instrumento que regulava os novos ritmos da vida industrial era ao mesmo tempo uma das mais urgentes dentre as novas necessidades que o capitalismo industrial exigia para impulsionar o seu avanço.”
“Na famosa descrição de Radcliffe sobre a idade de ouro dos tecelões manuais de Lancashire na década de 1790,os homens tinham “todos um relógio no bolso”,e toda casa era “bem equipada com um relógio numa caixa de mogno elegante ou refinada”.”
283 – “A Santa Segunda - Feira parece ter sido observada quase universalmente em todos os lugares em que existiam indústrias de pequena escala,domésticas e fora da fábrica. Essa tradição era geralmente encontrada nos poços das minas,e às vezes continuava na manufatura e na indústria pesada. Perpetuou-se na Inglaterra até o século XIX --- e , na verdade,até o século XX --- por complexas razões econômicas e sociais.”
288 – “Coloquei “pré – industrial”entre aspas: e por uma razão. É verdade que a transição para a sociedade industrial desenvolvida requer uma análise tanto sociológica como econômica.”
289 – “Nesse ponto, já em 1700,estamos entrando na paisagem familiar do capitalismo industrial disciplinado,com a folha de controle do tempo,o controlador do tempo,os delatores e as multas.”
294 –“ A primeira geração de trabalhadores nas fábricas aprendeu com seus mestres a importância do tempo; a segunda geração formou seus comitês em prol de menos tempo de trabalho no movimento pela jornada de dez horas; a terceira geração fez greves pelas horas extras ou pelo pagamento de um percentual adicional (1,5%) pelas horas trabalhadas fora do expediente. Eles tinham aceito as categorias de seus empregadores e aprendido a revidar os golpes dentro desses preceitos. Haviam aprendido muito bem a lição, a de que tempo é dinheiro.”
295 - […] “no comércio ou em qualquer negócio;na adiministração ou qualquer atividade lucrativa,costumamos dizer,de um homem que ficou rico com o se trabalho, que ele fez bom uso de seu tempo.”
297 e 298 - “ Por meio de tudo isso – pela divisão do trabalho,supervisão do trabalho,multas,sinos e relógios,incentivos em dinheiro,pregações e ensino,supressão das feiras e dos esportes –
formaram-se novos hábitos de trabalho e impôs-se uma nova disciplina de tempo. A mudança levou às vezes várias gerações para se concretizar (como os Potteries),sendo possível duvidar até que ponto foi plenamente realizada:ritmo de trabalho irregular foram perpetuados ( e até institucionalizados) no século atual,especialmente em Londres e nos grandes portos.
“Na sociedade capitalista madura,todo o tempo deve ser consumido,nogociado utilizado;é uma ofensa que a força de trabalho meramente “passe tempo” “.
“Mas até que ponto essa propaganda realmente teve sucesso?Até que ponto temos o direito de falar de uma reestruturação radical da natureza social do homem e de seus hábitos de trabalho?Apresentei em outro trabalho algumas razões para supor que essa disciplina foi realmente internalizada,e que podemos ver nas seitas metodistas do ínicio do século XIX uma representação figurativa da crise psíquica por elas causada. Assim como a nova percepção do tempo desenvolvida pelos mercadores e pela gentry na Renascença parece encontrar expressão na consciência intensificada da mortalidade, assim, também – é possível afirmar – o fato de essa percepção se estender até os trabalhadores durante a Revolução Industrial ajuda a explicar (junto com o acaso e a alta mortalidade da época) a ênfase obsessiva na morte encontrada em todos os sermões e brochuras destinados ao consumo da classe trabalhadora. Ou (de um ponto de vista positivo) pode -se notar que,à medida que a Revolução Industrial avança,os incentivos salariais e as campanhas de expansão do consumo – as recompensas palpáveis pelo consumo produtivo do tempo e a prova de novas atitudes “proféticas” para o futuro – são claramente eficientes.
300 e 301 – “ O ponto em discussão não é o do “padrão de vida”. Se os reóricos do crescimento querem de nós essa afirmação,podemos aceitar que a cultura popular mais antiga era sob muitos aspectos ociosa,intelectual vazia,desprovida de espírito e,na verdade,terrivelmente pobre.”
“O que precisa ser dito não é que o modo de vida seja melhor do que o outro, mas que esse é um ponto de conflito de enorme alcance; que o registro histórico não acusa simplesmente uma mudança tecnológica neutra e inevitável, mas também a exploração e a resistência à exploração; e que os valores resistem a ser perdidos bem como a ser ganhos. A literatura rapidamente crescente da sociologia da industrialização é como uma paisagem que foi devastada por anos de seca moral: é preciso viajar por dezenas de milhares de palavras crestadas pela abstração a-histórica entre cada oásis de realidade humana. Muitos dos engenheiros ocidentais do crescimento parecem totalmente presunçosos a respeito das dádivas de formação de caráter que trazem nas mãos para seus irmãos atrasados.”
302 – “ Esse é um problema que os povos do mundo em desenvolvimento devem enfrentar em sua vida e em seu crescimento. Espera-se que eles tomem cuidado com modelos convenientes e manipuladores,que apresentam as massas trabalhadoras apenas como uma força inerte de trabalho. E surge também nos países industriais avançados a percepção de que esse deixou de ser um problema situado no passado. Pois estamos agora num ponto em que os sociólogos passaram a discutir o “problema” do lazer. E uma parte do problema é: como o lazer se tornou um problema? O puritanismo, com seu casamento de conveniência com o capitalismo industrial, foi o agente que converteu as pessoas a novas avaliações do tempo; que ensinou as crianças a valorizar cada hora luminosa desde os primeiros anos de vida; e que saturou as mentes das pessoas com a equação “tempo é dinheiro”. Um tipo recorrente de revolta no capitalismo industrial ocidental, a rebeldia da boêmia ou dos beatniks, assume frequentemente a forma de zombar da premência dos valores de tempo respeitáveis. E surge uma questão interessante: se o puritanismo era uma parte necessária do ethos do trabalho que deu ao mundo industrializado a capacidade de se libertar das economias do passado afligidas pela pobreza, a avaliação pouritana do tempo começa a se deteriorar quando se abrandam as pressões da pobreza? Já está se deteriorando? As pessoas vão começar a perder aquela premência inquieta, aquele desejo de consumir o tempo de forma útil, que a maioria leva consigo assim como usa um relógio no pulso?”
304 – Pois não existe desenvolvimento econômico que não seja ao mesmo tempo desenvolvimento ou mudança de cultura.
Conclusão
A sociedade pré capitalista é uma sociedade tradicional com a chegada do capitalismo essa tradição começa a se perder. Na sociedade pré capitalista o tempo era mais lento já na capitaslita o tempo é extremamente corrido,o relógio passa a ser um instrumento extremamente importante nesta sociedade pois ele esta ligado com a riqueza. Concluindo a sociedade moderna corrói a tradição,uso uma frase de Marx que dizia que nesta sociedade:"tudo que é sólido desmancha no ar", "tudo que é sagrado, é profanado" .
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