quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Econômia Da Mesopotâmia - Livro sociedades do Antigo Oriente Próximo;


Livro Sociedades Do Antigo Oriente Próximo – Ciro Flamarion


Evolução Econômica da Mesopotâmia ao Longo do III,II e I Milênio = Grandes Eixos



Introdução

   A  econômia da Mesopotâmia,sofria com as guerras,calamidades naturais preujudicavam as forças produtivas,com uma sociedade tipicamente desigual,os agricultores mais pobres e o povo em geral se endividavam e sofriam bastante.





III Milênio A.C.


  A agricultura era a principal atividade econômica no III milênio A.c. A cevada era o cereal mais cultivado além de diversos tipos de trigo que eram plantados.
 A agricultura desde o Neolítico era associada a pecuária,o gado e também os asnos;eram usados como animal de tiro para o arado e para os carros,o cavalo só começou a ser usado no II milênio a.c.
 Alem dos agricultores também existiam os artesãos haviam grandes oficinas,as estatais e também as familiares.O transporte usado pelo comercio local e o entre as cidades da Baixa Mesopotâmia,era a navegação nos rios,os riscos eram pequenos,porém a concorrência era grande. O comercio de longo curso foi o mais importante O excedentes agrícolas e também produtos manufaturados eram trocados no exterior por matérias-prima e artigos de luxo.Apesar de muito ariscado o coemrcio de longo curso permitia uma considerável acumulação privada de riquezas,porque se associava à compra de terras e escravos e ao empréstimo a juros. A economia era protomonetária: Não existia moeda cunhada a cevada e os metais eram usadas como moeda nas transações. A renda era em forma de tributos a corveia.Nas terras que pertenciam aos templos Sumérios do III milênio a.c.,a renda era destinada ao Rei e a membros da familia real.A tendencia do III milênio foi a ascensão dos chefes,alguns assumiram o titulo de rei,e se declaram divinos.Os templos ocupavam metade do solo arável ; o resto era dividido em terras do palácio e terras comunais,de familias grandes e comunidades aldeãs,algumas também pertenciam a individuos que não pertenciam ao estado.A economia da Baixa Mesopotâmia partia de duas estruturas básicas,o modo de produção palatino e modo de produção doméstico ou aldeão.A propriedade Privada era pouco importantes,alguns autores dizem que ela teria desaparecido durante  período estatizante da III dinastia de Ur.As terras pertencentes dos templos eram cultivadas por mão-de-obra escrava,mas também por dependentes juridicamente livres;pequenas parcelas era distribuidas aos agricultores,artesãos,guardas,pescadores,escribas,serviçais etc,que recebiam rações.Os Templos eram enormes complexos.No período estatizante da III dinastia Ur,lavradores dependentes,não recebiam mais lotes de subsistência. Este sistema acabou no milênio seguinte.Os comerciantes eram funcionarios do palácio e dos templos,porém também faziam negócios por conta própria.




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II Milênio A.c.

   Eram três tipos de propriedade sobre a terra:
1- As extensas terras reais.
2-Os domínios dos templos,muito menos importantes do que no período Sumero-acardiano.
3-As propriedades privadas,geralmente pequenas,mas numerosas;

  Em terras reais encontrava-se três setores:
1-A parte administrada diretamente pelo palácio,trabalhada por lavradores dependentes e pessoas que cumpriam a “corveia real”.
2-Lotes arrendados,ou confiados a colonos.
3-Porções concedidas em usufruto a soldados e funcionarios em troca de serviços.

   A escravidão ainda existia neste período,por causa da guerra,do tráfico,condenações judiciarias e por falta de pagamento de dívidas,por três anos Hammurapi limitou está ultima,os escravos eram designados para fazer trabalhos artesanais e serviços domesticos,raramente era mandado para trabalhos agricolas.Quem faziam trabalhos agricolas eram lavradores dependentes e trabalhadores assalariados alugados por dia,isto tanto para as terras do rei quanto em terras particulares.
 
A sociedade era dividida em três categorias jurídicas:
1-Awilum,homem livre que gozava de plenos direitos;
2-Mushkenum,homem livre com status inferior,poderia ser dependentes do pálacio tutelados e protegidos;
3- O escravo.

   Variavam de acordo com a categoria,os direitos,privilegios e deveres.
    As transações mercantis e creditícias,mesmo com a ausência de moeda cunhada,e a ausência da divisão do trabalho no período paleobabilônico essas transações se desenvolveram.Isto poderia ter abalado as estruturas comunitária das aldeias,porém isto é duvidoso.Poderá ter sem uma grande heterogeneidade regional na Baixa Mesopotâmia.
   No período Cassita da Babilônia,a segunda metade do II milênio a.c.,é pouco conhecido.Povos tribais ao chegarem à Mesopotâmia se revitourou as estrutruras comunitárias com a interrupção dos editos,houve o abondono da proteção dos pequenos proprietários endividados,o que resultou a concentração da propriedade do solo.Os santuários atribuiram novamente muitas terras,mas sob o estreito controle real.


I Milênio A.c.

    Na primeira parte do I milênio a.c.,a Baixa Mesopotâmia estava sob a influência indireta dos assírios e,depois,sob seu governo.
  Os templos foram muitos favorecidos pelos assírios com doações,mantendo-o sob o controle do estado.
   O domínio assírio sucedeu o Império Neobabilônico,neste momento os templos tiveram novamente em papel fundamental na economia.
   O dizimo real atingia todas as terras,incluindo as dos templos,uma causa deforte oposição sacerdotal ao rei Nabonido,foram a emgerência do estado na economia dos santuários.
   Os templos tinham ligação com a sociedade global,fato de que grupos de “notáveis” exerciam prebendas nos templos e era formado por “anciãos” os conselhos ou tribunais que funcionavam no interior dos santuários.
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   As grandes oficinas artesanais e o intenso comércio exterior eram provavelmente controlados pelos templos.
   O período persa não houve grandes mudanças estruturais,a moeda cunhada se introduziu,o que causou,um emprobecimento maior ainda dos camponeses que detinham menos recursos.

Conclusão
  
   Em linhas gerais pode-se dizer que a forma de produção predominante na Mesopotâmia baseou-se na propriedade coletiva das terras administrada pelos templos e palácios. Os indivíduos só usufruíam da terra enquanto membros dessas comunidades. Acredita-se que quase todos os meios de produção estavam sobre o controle do déspota, personificação do Estado, e dos templos. O templo era o centro que recebia toda a produção, distribuindo-a de acordo com as necessidades, alem de proprietário de boa parte das terras: é o que se denomina cidade-templo.
Estudos recentes mostram que, além do setor da economia dos templos e do palácio, havia um setor privado que participava, também, da economia da cidade-estado.
Administradas por uma corporação de sacerdotes, as terras, que teoricamente eram dos deuses, eram entregues aos camponeses. Cada família recebia um lote de terra e devia entregar ao templo uma parte da colheita como pagamento pelo uso útil da terra. Já as propriedades particulares eram cultivadas por assalariados ou arrendatários.
Entre os sumerianos havia a escravidão, porém o número de escravos era relativamente pequeno.
Em contraste com as cheias regulares e benéficas do Nilo, o fluxo das águas dos rios Tigre e Eufrates, ao subir à Leste pelos Montes Tauro, é irregular e imprevisível, produzindo condições de seca em um ano e inundações violentas e destrutivas em outro. Para manter algum tipo de controle, fazia-se necessário a construção de açudes e canais, alem de complexa organização. A construção dessas estruturas também era dirigida pelo Estado. O controle dos rios exigia numerosíssima mão-de-obra, que o governo recrutava, organizava e controlava.




 

 Bibliografia:Sociedades Do Antigo Oriente Próximo – Ciro Flamarion S.Cardoso;














sábado, 8 de outubro de 2011

Fichamento Cap 6 do Livro: Costumes em Comum Estudos Sobre A Cultura Popular Tradicional de Thompson E.P .





 Thompson E.P    Costumes em Comum Estudos Sobre A Cultura Popular Tradicional.    

            

        INTRODUÇÃO
   
Thompson,em sua visão marxista mostra as mudanças que ocorrem na Europa com a chegada do capitalismo industrial,por exemplo para os camponeses o tempo era medido  com a duração das tarefas ,já para  os empregadores o tempo era medido pelo relógio. Com a transformação do tempo o feriado de segunda-feira se perdeu só a elite que manteu a segunda como dia livre,esse novo tipo de medição de tempo trouxe mudanças significativas já que a sociedade não industrializada estava acostumada a sair do trabalho a qualquer hora e com o advento capitalista tempo passa a ser dinheiro,isto bate de frente com o modo de vida pré industrial.


   1.Fichamento do capitulo 6.

 1.1 capitulo 6 – Tempo,Disciplina de trabalho e Capitalismo Industrial.



 268 e 269 -  “É lugar-comum que os anos entre 1300 e 1650 presenciaram mudanças importantes na percepção do tempo no âmbito da cultura intelectual da Europa Ocidental.
À medida que o século XVII avança,a imagem do mecanismo do relógio se expande,até que,com Newton,toma conta do universo. E pela metade do século XVIII (se confiarmos em Sterne) o relógio já alcançara níveis mais íntimos.”
“É bem conhecido que,entre os povos primitivos,a medição do tempo está comumente relacionada com os precessos familiares no ciclo do trabalho ou das tarefas domésticas.”

 271 e 272  - “É possível propor três questões sobre a orientação pelas tarefas. Primeiro,há a interpretação de que é mais humanamente compreensível do que é uma necessidade. Segundo,na comunidade em que a orientação pelas tarefas é comum parecer haver pouca separação entre “o trabalho” e “a vida”.As relações sociais e o trabalho são misturados – o dia de trabalho se prolonga ou se contrai segundo a tarefa - e não há grande senso de conflito entre o trabalho e “passar do dia”.Terceiro,aos homens acostumados com o trabalho marcado pelo relógio,essa atitude para com o trabalho parece perdulária e carente de urgência.”

 274 e 275 –“ E também não deixa de ser verdade que o moral elevado dos trabalhadores era sustentado pelos altos ganhos na colheita. Mas seria um erro ver a situação da colheita como resposta direta  a estímulos econômicos. É igualmente um momento em que os ritmos coletivos mais antigos irrompem em meio aos novos,e uma porção do folclore e dos costumes rurais pode ser invocada como evidência comprovadora da satisfação psíquica e das funções rituais.”

“Não é absolutamente claro até que ponto se podia dispor de hora precisa,marcada pelo relógio,na época da Revolução Industrial. Do século XIV em diante,contruíram-se relógios públicos nas cidades e nas grandes cidades-mercados. A maioria das paróquias inglesas devia possuir relógios de igreja no final do século XVI. Mas a exatidão desses relógios é motivo de discussão; e o relógio de sol continuava em uso (em parte para acertar o relógio) nos séculos XVII,XVIII e XIX.”

“Um grande progresso na exatidão dos relógios caseiros veio com o uso do pêndulo após 1658.Os relógios de pêndulo começaram a se espalhar a partir da década de 1660,mas os relógios com os ponteiros dos minutos (além dos ponteiros das horas) só se tornaram comuns depois dessa época. “

 276 e 277 – “A fabricação de relógios não portáteis nas pequenas cidades sobreviveu até o século XVIII.Ao contrário,a fabricação de relógios portáteis,desde os primeiros anos do século                XVIII,estava concentrada em alguns centros,dentre os quais os mais importantes eram Londres,Coventry,Prescot e Liverpool.”

“É claro que havia muitos relógios portáteis e não portáteis por volta de 1800.Mas não é claro quem os possuía. A dra Dorothy George,escrevendo sobre a metade do século XVIII,sugere que “os trabalhadores,assim como os artesãos,frequentemente possuíam relógios de prata”, mas a afirmação   é indefinida quanto à  data e apenas ligeiramente documentada.”

 278, 279 e 280 – “Os impostos eram de dois xelins e seis pence sobre cada relógio portátil de metal ou prata;dez xelins sobre cada relógio de ouro;e cinco xelins sobre cada relógio não portátil.”

“Havia muitos relógios no país na década de 1790: a ênfase estava mudando do “luxo” para a “conveniência”;até os colonos podiam ter relógios de madeira que custavam menos de vinte xelins. Na verdade (como seria de esperar),ocorria uma difusão geral de relógios portáteis e não portáteis no exato momento em que a Revolução Industrial requeria maior sincronização do trabalho.”
“O pequeno instrumento que regulava os novos ritmos da vida industrial era ao mesmo tempo uma das mais urgentes dentre as novas necessidades que o capitalismo industrial exigia para impulsionar o seu avanço.”

“Na famosa descrição de Radcliffe sobre a idade de ouro dos tecelões manuais de Lancashire na década de 1790,os homens tinham “todos um relógio no bolso”,e toda casa era “bem equipada com um relógio numa caixa de mogno elegante ou refinada”.”

283 – “A Santa Segunda - Feira parece ter sido observada quase universalmente em todos os lugares em que existiam indústrias de pequena escala,domésticas e fora da fábrica. Essa tradição era geralmente encontrada nos poços das minas,e às vezes continuava na manufatura e na indústria pesada. Perpetuou-se na Inglaterra até o século XIX --- e , na verdade,até o século XX --- por complexas razões econômicas e sociais.”


 288 – “Coloquei “pré – industrial”entre aspas: e por uma razão. É verdade que a transição para a sociedade industrial desenvolvida requer uma análise tanto sociológica como econômica.”

 289 – “Nesse ponto, já em 1700,estamos entrando na paisagem familiar do capitalismo industrial disciplinado,com a folha de controle do tempo,o controlador do tempo,os delatores e as multas.”


294 –“ A primeira geração de trabalhadores nas fábricas aprendeu com seus mestres a importância do tempo; a segunda geração formou seus comitês em prol de menos tempo de trabalho no movimento pela jornada de dez horas; a terceira geração fez greves pelas horas extras ou pelo pagamento de um percentual adicional (1,5%) pelas horas trabalhadas fora do expediente. Eles tinham aceito as categorias de seus empregadores e aprendido a revidar os golpes dentro desses preceitos. Haviam aprendido muito bem a lição, a de que tempo é dinheiro.”

 295 - […] “no comércio ou em qualquer negócio;na adiministração ou qualquer atividade lucrativa,costumamos dizer,de um homem que ficou rico com o se trabalho, que ele fez bom uso de seu tempo.”


 297 e 298 - “ Por meio de tudo isso – pela divisão do trabalho,supervisão do trabalho,multas,sinos e relógios,incentivos em dinheiro,pregações e ensino,supressão das feiras e dos esportes – 
                                                                                                                                                           
formaram-se novos hábitos de trabalho e impôs-se uma nova disciplina de tempo. A mudança levou às vezes várias gerações para se concretizar (como os Potteries),sendo possível duvidar até que ponto foi plenamente realizada:ritmo de trabalho irregular foram perpetuados ( e até institucionalizados) no século atual,especialmente em Londres e nos grandes portos.
“Na sociedade capitalista madura,todo o tempo deve ser consumido,nogociado utilizado;é uma ofensa que a força de trabalho meramente “passe tempo” “.
“Mas até que ponto essa propaganda realmente teve sucesso?Até que ponto temos o direito de falar de uma reestruturação radical da natureza social do homem e de seus hábitos de trabalho?Apresentei em outro trabalho algumas razões para supor que essa disciplina foi realmente internalizada,e que podemos ver nas seitas metodistas do ínicio do século XIX uma representação figurativa da crise psíquica por elas causada. Assim como a nova percepção do tempo desenvolvida pelos mercadores e pela gentry na Renascença parece encontrar expressão na consciência intensificada da mortalidade, assim, também – é possível afirmar – o fato de essa percepção se estender até os trabalhadores durante a Revolução Industrial ajuda a explicar (junto com o acaso e a alta mortalidade da época) a ênfase obsessiva na morte encontrada em todos os sermões e  brochuras destinados ao consumo da classe trabalhadora. Ou (de um ponto de vista positivo) pode -se notar que,à medida que a Revolução Industrial avança,os incentivos salariais e as campanhas de expansão do consumo – as recompensas palpáveis pelo consumo produtivo do tempo e a prova de novas atitudes “proféticas” para o futuro – são claramente eficientes.

300 e 301 – “ O ponto em discussão não é o do “padrão de vida”. Se os reóricos do crescimento querem de nós essa afirmação,podemos aceitar que a cultura popular mais antiga era sob muitos aspectos ociosa,intelectual vazia,desprovida de espírito e,na verdade,terrivelmente pobre.”
“O que precisa ser dito não é que o modo de vida seja melhor do que o outro, mas que esse é um ponto de conflito de enorme alcance; que o registro histórico não acusa simplesmente uma mudança tecnológica neutra e inevitável, mas também a exploração e a resistência à exploração; e que os valores resistem a ser perdidos bem como a ser ganhos. A literatura rapidamente crescente da sociologia da industrialização é como uma paisagem que foi devastada por anos de seca moral: é preciso viajar por dezenas de milhares de palavras crestadas pela abstração a-histórica entre cada oásis de realidade humana. Muitos dos engenheiros ocidentais do crescimento parecem totalmente presunçosos a respeito das dádivas de formação de caráter que trazem nas mãos para seus irmãos atrasados.”

302 – “ Esse é um problema que os povos do mundo em desenvolvimento devem enfrentar em sua vida e em seu crescimento. Espera-se que eles tomem cuidado com modelos convenientes e manipuladores,que apresentam as massas trabalhadoras apenas como uma força inerte de trabalho. E surge também nos países industriais avançados a percepção de que esse deixou de ser um problema situado no passado. Pois estamos agora num ponto em que os sociólogos passaram a discutir o “problema” do lazer. E uma parte do problema é: como o lazer se tornou um problema? O puritanismo, com seu casamento de conveniência com o capitalismo industrial, foi o agente que converteu as pessoas a novas avaliações do tempo; que ensinou as crianças a valorizar cada hora luminosa desde os primeiros anos de vida; e que saturou as mentes das pessoas com a equação “tempo é dinheiro”. Um tipo recorrente de revolta no capitalismo industrial ocidental, a rebeldia da boêmia ou dos beatniks, assume frequentemente a forma de zombar da premência dos valores de tempo respeitáveis. E surge uma questão interessante: se o puritanismo era uma parte necessária do ethos do trabalho que deu ao mundo industrializado a capacidade de se libertar das economias do passado afligidas pela pobreza, a avaliação pouritana do tempo começa a se deteriorar quando se abrandam as pressões da pobreza? Já está se deteriorando? As pessoas vão começar a perder aquela premência inquieta, aquele desejo de consumir o tempo de forma útil, que a maioria leva consigo assim como usa um relógio no pulso?”

 
                                                                                                                                            
304 – Pois não existe desenvolvimento econômico que não seja ao mesmo tempo desenvolvimento ou mudança de cultura.


          Conclusão

A sociedade pré capitalista é uma sociedade tradicional com a chegada do capitalismo essa tradição começa a se perder. Na sociedade pré capitalista o tempo era mais lento já na capitaslita o tempo é extremamente corrido,o relógio passa a ser um instrumento extremamente importante nesta sociedade pois ele esta ligado com a riqueza. Concluindo a sociedade moderna corrói a tradição,uso uma frase de Marx que dizia que nesta sociedade:"tudo que é sólido desmancha no ar", "tudo que é sagrado, é profanado" .

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Os Annales e a Nova História


Os Annales e a Nova História


"Erguendo-se contra a dominação da Escola Positivista, uma nova tendência da historiografia francesa exprime-se bastante discretamente em ‘A Revista de Síntese’ durante os anos 1920, mais francamente na ‘Revista Les Annales’ durante os anos 1930." (MARTIN: 2000, 119)
O filósofo Henri Berr foi um dos primeiros intelectuais a reagir contra a "escola metódica". Para Berr a história era uma coisa muito diferente de um exercício de erudição, a base de uma ciência dos progressos da humanidade. Em 1900, Henri Berr cria a "Revista de Síntese", que vai dirigir durante meio século.

A sua publicação torna-se a encruzilhada onde se encontram: E. Durkheim e os seus discípulos sociólogos; P. Vidal de la Blanche e seus amigos geógrafos; F. Simiamd e outros economistas; H. Wallone outros psicólogos; finalmente Lucien Febvre e historiadores hostis aos positivistas. 
Dissidentes da Revista de Síntese, Lucien Febvre e Marc Bloch - com o projeto de renovar a história - fundaram a Revista Les Annales d´ Histoire Économique et Sociale em 1929. Tinham como objetivos: eliminar o espírito de especialidade, promover a pluridisciplinaridade, favorecer a união das ciências humanas, passar da fase dos debates teóricos (os da Revista de Síntese) para a fase das realizações concretas, nomeadamente inquéritos coletivos no terreno da história contemporânea.

A Revista dos Annales surge numa época em que a "escola metódica" exalta a sua preocupação com a erudição, privilegiando a dimensão política - procurando dar grande ênfase ao acontecimento. "A corrente inovadora (Annales) despreza o acontecimento e insiste na "longa duração"; deriva a sua atenção da vida política para a atividade econômica, a organização social e a psicologia coletiva." (Martim: 2000, 119) Dessa forma, esforçavam-se em aproximar a história das outras ciência humanas.
Nesse contexto surge uma nova concepção de história - a nouvelle histoire - associada a chamada École des Annales, agrupada em torno da Revista Annales: ecónomies, societés, civilisations. De acordo com Peter Burke, a nouvelle histoire pode ser definida por uma via negativa, em outras palavras, defini-la em termos do que ela não é, daquilo a que se opõe seus estudiosos. "Os historiadores tradicionais pensam na história como essencialmente uma narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova história está mais preocupada com a análise das estruturas." (BURKE: 1992, 12) Ou seja, a nova história não estuda épocas, mas estruturas particulares. Aqui reside o conceito de "História de Longa Duração". Segundo Braudel, a história situa-se em três escalões: a superfície, uma história dos acontecimentos que se insere no tempo curto (concepção positivista); a meia encosta, uma história conjuntural, que segue um ritmo mais lento; em profundidade, uma história estrutural de longa duração, que põe em causa os séculos. Nesse sentido, a nouvelle histoire, isto é, a história sob a influência das ciências sociais realizou uma revolução epistemológica quanto ao conceito de tempo histórico. Não obstante, a pesquisa histórica dentro do quadro do tempo longo, consiste em um esforço de superação do evento e de seus corolários: a história contínua, progressiva e irreversível da realização de uma consciência humana capaz de uma reflexão total.
Logo, o tempo histórico da chamada nouvelle histoire não pretendia ser uma cronologia astronômica e tão pouco um conhecimento da essência espiritual da sociedade.
Sob influência das ciências sociais, a história também sofreu uma mudança no campo das técnicas e dos métodos. Se antes a documentação era relativa ao evento e ao seu produtor, agora ela é relativa ao campo econômico-social: ela se torna massiva, serial e revela também o duradouro, a permanência, as estruturas sociais. "Os documentos se referem à vida cotidiana das massas anônimas, à sua vida produtiva, à sua vida comercial, ao seu consumo, às suas crenças, às sua diversas formas de vida social." (REIS: 1994, 126) Portanto, a nova história privilegia a documentação massiva e involuntária em relação aos documentos voluntários e oficiais. Nesse sentido, os documentos são arqueológicos, pictográficos, iconográficos, fotográficos, cinematográficos, numéricos, orais, enfim, de todo tipo. Todos os meios são tentados para vencer as lacunas e silêncios das fontes, mesmo, e não sem risco, os considerados como antiobjetivos.
"O homem razoável adapta-se ao meio; o homem insensato tenta adaptar o meio; essa é uma razão porque todos os progressos são obras de imbecis." (FEBVRE: 1989, 22) O Tempo histórico novo, e nisso parece haver uma maior unanimidade entre os membros do grupo, rejeita a hipótese do progresso, pois essa idéia implicaria a apreensão da história como a realização de certos valores. Valores característicos de um mundo moderno dominado pelo materialismo rigoroso de uma física tratada como uma geometria do mundo, que esvaziava a matéria de toda a qualidade, reconduzindo-a, com todo o seu ardor, para o objetivo. A hipótese do progresso pressupõe, especulativamente, a existência de um tempo objetivo e global. A nouvelle histoire, no entanto, ao negar a existência de um tempo progressivo, ou seja, contínuo, cumulativo e irreversível, defende a tese de um tempo pluridirecionado que não é global, mas múltiplo.
Não obstante, a nova história recusa a hipótese de um tempo linear, cumulativo e irreversível, até então defendido pelos historiadores tradicionais. Para os historiadores novos a história não pode ser conhecida e não pode sobretudo ser produzida com base em uma compreensão especulativa e revolucionária do tempo histórico. Para controlar esse tempo acelerado, a história deveria enfatizar o lado repetitivo, cíclico, resistente, inerte, constante, da vida dos homens. Para realizar essa mudança de perspectiva proposta pelas ciências sociais, a história deveria se tornar outra que a tradicional, por uma revisão radical de sua concepção de tempo histórico. Foi o que compreendeu a nouvelle histoire: a construção de uma outra concepção de história e de seu tempo.
Os Annales elaboraram, portanto, uma mudança substancial na compreensão do tempo histórico. A nouvelle histoire opõe-se ao tempo da história da época das Luzes (embora haja os que vejam nesse movimento o seu inspirador mais direto), que é o da evolução gradual e progressiva da Razão, e opõe-se ás versões revolucionárias desse tempo, que, ao invés de uma evolução gradual, propõem a revolução puramente, mas visando ao mesmo progresso da Razão. Segundo o historiador José Carlos Reis, a nouvelle histoire foi a constatação e o reconhecimento das forças de inércias estruturais, que limitam a ação livre e que não tem pressa para verem a vitória da razão. Ou seja, percebe-se a recusa, consciente ou não, confessada ou não, da idéia de revolução e tudo o que ela implica: aceleração do tempo dos eventos e acontecimento especulativo do sentido da história. A história da longa duração enfatiza os movimentos lentos e representa uma desaceleração das mudanças.
 

O Espírito dos Annales:
Lucien Febvre, Marc Bloch e Fernand Braudel
Lucien Febvre
O historiador, na chamada "escola metódica", não poderia, portanto, escolher os fatos, pois a escolha era a própria negação da obra científica. Tal conceito foi amplamente criticado e recusado pelo grupo dos Annales, personificado sobremaneira, na figura de Lucien Febvre. Para o historiador "toda história é escolha" (FEBVRE: 1989, 19), pois o historiador cria os seus materiais, ou se se quiser, recria-os; em outras palavras, o historiador parte para o passado com uma intenção precisa, um problema a resolver, uma hipótese de trabalho a verificar.
Nesse sentido, Lucien Febvre enfatiza, em seu legado intelectual, a importância e, não obstante, a necessidade de uma história engajada que compreende e faz compreender, isto é, uma ciência humana constituída por fatos e textos, capazes de questionar e problematizar a existência humana… "Peço-lhes que vão para o trabalho à maneira Claude Bernard, com uma boa hipótese na cabeça. Que nunca se façam colecionadores de fatos, ao acaso, como dantes se fazia pesquisadores no cais". Em outras palavras, Lucien Febvre propunha uma História não automática, mas sim problemática. Este foi o grande ensinamento de Lucien Febvre, bem como do grupo dos Annales: formular uma história engajada, cujo objetivo principal fosse responder às lacunas inerentes à condição humana.
 
Marc Bloch
Marc Bloch esforçou-se por refletir sobre o método em história, tendo em conta a experiência do grupo dos Annales. O seu manuscrito que ficou incompleto, foi ordenado e publicado posteriormente por Lucien Febvre sob o duplo título: Apologie pour l´histoire ou Métier d´histoiren. Bloch mostra-se ligeiramente menos crítico do que Lucien Febvre a respeito da "história historicizante". Aprecia a aquisição da erudição do século XIX. Para ele a escola alemã (Fustel de Coulanges), desenvolveu a erudição a sua categoria intelectual. "O historiador foi levado à banca de trabalho".
Tanto Bloch como Febvre, condenam a falta de ambição dos historiadores "positivistas". Estes, "’muito preocupados, dada sua educação primeira, pelas dificuldades, as dúvidas, os freqüentes recomeços da crítica documental, tiraram destas constatações, antes de tudo, uma lição de humildade desiludida. A disciplina à qual votavam os seus talentos não lhes pereceu, afinal de contas, capaz, nem no presente, de conclusões bem seguras, nem no futuro de muitas perspectivas de progresso’". (MARTIN: 2000, 125)
Com relação aos documentos históricos, Bloch afirma que o "stock de documentos", de que a história dispõe não é limitado; sugere não utilizar exclusivamente os documentos escritos e recorrer a outros materiais: arqueológicos, artísticos, numismáticos, etc. Bloch não entende apenas explorar novos documentos, que também descobrir novos domínios. Mais que qualquer outro responsável dos Annales, orienta-se para a análise dos fatos econômicos. Neste campo, é influenciado, sem o reconhecer explicitamente, pela obra de Karl Marx, que o incita a relacionar as estruturas econômicas e as classes sociais; e é inspirado pelas investigações do economista F. Simiand, do historiador H. Hauser, que o empenham na apreciação das flutuações econômicas na base das séries de preços.
 
Fernand Braudel
Publicado pela primeira vez em 1949, a obra O Mediterrâneo na Época de Felipe II, representou a inovação metodológica para o estudo histórico. Tal obra, característica do espírito dos Annales, volta as costas para a tradição da "história historicizante".
Fernand Braudel, em certo momento na sua obra, ao dar atenção à "história batalha", fez uma concessão à escola "positivista", cuja posição continua forte na instituição universitária; todavia, como digno representante da escola dos Annales, relega esses acontecimentos para segundo plano.
Durante mais de vinte anos, de 1946 a 1968, em primeiro lugar junto de Lucien Febvre, depois sozinho nos comandos, dirige a revista Annales, preside a 6.ª seção da Escola Prática dos Altos Estudos, ocupa uma cátedra no Colégio de França, guia as investigações de inúmeros historiadores debutantes. Braudel, de maneira geral, permanece fiel às orientações de Lucien Febvre e de Marc Bloch: louva a unidade das ciências humanas, tenta edificar uma "história total" e mantém a ligação entre o passado e o presente. "’Depois da fundação dos Annales…, o historiador quis-se e fez-se economista, antropólogo, demógrafo, psicólogo, lingüista… A História é, se se pode dizer, um dos ofícios menos estruturados da ciência social, portanto um dos mais flexíveis, dos mais abertos… A História continuou, dentro desta mesma linha, a alimentar-se das outras ciências do homem… há um história econômica…, uma maravilhosa história geográfica…, uma demografia histórica…; há mesmo uma história social… Mas se a história omnipresente põe em causa o social no seu todo, é sempre a partir deste movimento do tempo… A História dialética da duração… é o estudo do social, de todo o social; e portanto do passado e portando também do presente". (MARTIN: 2000, 131)
Apesar de se proibir de instaurar um "historicismo" - uma espécie de imperialismo da explicação histórica -, Fernand Braudel nem por isso deixa de colocar a sua disciplina em posição dominante, na encruzilhada das ciências humanas.
 

BIBLIOGRAFIA
BOURDÉ, Guy e MARTIN, Hervé. As Escolas Históricas. Lisboa: Editora Europa-América, 2000.
BURKE, Perter (org.). A Escrita da História - Novas Prespectivas. São Paulo: Editora Unesp, 1992.
COULANGES, Fustel de. "Histoire des institutions politiques de l’ancienne France", in EHRARD, J. & PALMADE, G.P – L’Histoire, segunda edição, A. Colin, 1965.
DURKHEIM, Émile – "A função da divisão social do trabalho [Capítulo 1: Método para determinar essa função]" in Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
FEBVRE, Lucien. Combates pela História.3.ª edição, Lisboa: Editorial Presença, 1989.
NISBET, Robert – "Conservadorismo e Sociologia" in José de Souza Martins (org.) Introdução crítica à Sociologia Rural. São Paulo: Hucitec, 1986.
REIS, José Carlos. Tempo, História e Evasão. Campinas: Papirus Editora, 1994.